O momento de entrar para uma luta é um dos mais tensos que um atleta de esportes de combate enfrenta.
E é neste momento que ele deve vencer o medo, e não depois de entrar na arena.
Um dos meus treinadores, que também já foi lutador, costumava dizer que estes eram os momentos mais solitários da vida do lutador.
Neste artigo, vou dizer a você o que se passava na minha cabeça momentos antes de uma luta. Confira!
A mente do lutador
Antes de dizer a você o que eu pensava antes de uma luta, é importante que eu explique que todo lutador tem um estilo de pensar e agir distinto.
Há lutadores que precisam de muito estímulo para entrar para uma luta. Os treinadores precisam lembrá-lo o tempo todo do quanto ele sofreu para estar naquela luta, e o que está em jogo.
Já outros preferem o silêncio. Se isolam, e não querem papo com ninguém.
Tem ainda um terceiro tipo, que alterna entre fazer piadas e brincadeiras e momentos de silêncio e isolamento. Eu me encaixava neste terceiro tipo.
Quando estava mais quieto e concentrado, simplesmente detestava quando viessem falar comigo. Em um torneio como o mundial de kyokushin, que dura 3 dias e conta com a participação de 128 atletas em média, só assistia a lutas que eu achasse que fosse essencial assistir, e passava bastante tempo concentrado.
Eu tinha confiança sobre o que eu pensava e sentia. Conseguia manter minhas emoções sob controle. Por isso, os momentos de isolamento, geralmente, eram para me afastar das pessoas que estavam visivelmente nervosas.
E não era por mal.
Eu sei que assistir a lutas de pessoas próximas é muito difícil. Eu mesmo ficava bem nervoso quando não estava participando de um evento, e assistia a lutas de conhecidos.
Mas para que meu desempenho não fosse afetado, eu preferia me isolar em alguns momentos.
Quando minha luta estava próxima
Esse era um momento que ocorria de forma diferente nas lutas profissionais e nas de kyokushin.
Enquanto nos eventos como o K-1, Glory, Bellator e outros eventos profissionais, o atleta aguarda sua vez de lutar longe do público, em um torneio de kyokushin os próximos atletas a lutarem de cada lado da chave formam filas dentro do ginásio. Essas filas geralmente são das quatro próximas lutas.
Isso, na minha opinião, já ajuda o atleta a entrar no clima de luta. Além do mais, quando você entra no ginásio, a atenção está toda direcionada a quem está lutando. Você, como um dos próximos, passa quase que despercebido.
Então, apesar de esperar minha vez de lutar já dentro do ginásio, com todo aquele barulho, eu achava muito mais fácil de me concentrar.
É engraçado como isso ocorre, pois, teoricamente, esperar nos bastidores, com pouca gente, seria melhor para a concentração. Bom, pelo menos comigo era o contrário.
Emoções que eu sentia
Quase nunca cheguei a uma luta sem ter me preparado muito. As que cheguei despreparado, foi mais por conta de lesões e questões externas do que por falta de empenho. E isso aconteceu somente no final da minha carreira.
Com isso, sempre cheguei no dia da luta confiante no meu desempenho. Eu sabia que o resultado não dependia apenas de mim, porque na minha frente estariam os melhores lutadores da modalidade, mas sabia que da minha parte não faltariam recursos para vencer.
Mesmo assim, o sentimento mais presente antes de lutar era aquele famoso frio na barriga.
Não tinha jeito. Em todas as lutas o nervosismo estava presente. E a vontade era que acabasse logo para eu já saber o resultado da luta.
O medo e o nervosismo nunca me atrapalharam. Nunca foram coisas que fizessem com que eu “amarelasse” na hora de lutar.
Sempre fiz o meu melhor, mesmo quando não me encontrava com 100% da minha capacidade.
Então, o medo sempre foi uma emoção com a qual eu consegui negociar, conviver bem, e fazer com que não me atrapalhasse. E acreditem, ele é necessário. Já lutei sem sentir nenhum frio na barriga antes da luta, e foi desastroso. Qualquer dia eu conto essa história.
Enfim, o que eu pensava antes de entrar para uma luta
Nada!
Isso mesmo, nada.
Quando chegava o momento de me preparar para lutar, entrava no meu modo executor. Ou seja, estava lá para deixar o corpo fazer o que tinha que fazer, sem a interferência dos meus pensamentos.
Em uma luta, precisamos tomar decisões o tempo inteiro. E essas decisões são tomadas de forma instantânea, quase por instinto.
Por isso a importância de chegar a uma luta bem treinado. Na hora da luta, não há tempo para pensar no que fazer. Na hora que aparece uma brecha para desferir um golpe, ou quando precisa bloquear um, isso simplesmente tem que acontecer sem que você precise pensar.
Você só consegue isso estando totalmente concentrado no momento presente. Não há espaço para pensamentos, em qualquer coisa que seja.
Por isso, alguns minutos antes de entrar para lutar, minha mente entrava em um modo em que não pensava em muita coisa especificamente. Apenas estava ali para fazer o que tinha ido fazer, lutar!
Lembrando que isso se trata do que eu vivi, e de como as coisas aconteciam comigo. Não estou dizendo que essa é a maneira certa ou errada de agir. Até porque, o que funcionou comigo pode não funcionar com você e vice versa.
E você, o que pensa antes das lutas? Deixe seu comentário!
Até a próxima.
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