Saber como administrar o tempo é essencial no esporte e na vida. E é engraçado como podemos tirar lições vividas no esporte e aplicá-las a outras áreas da vida.
Não só do esporte, claro. Usei o esporte aqui porque este é o meu histórico.
Mas saiba que, qualquer que seja seu histórico, você já relacionou o que aprendeu a outras áreas da vida e, provavelmente, nem se deu conta disso.
Mas enfim, vou contar agora como a luta com Sergei Osipov foi uma lição sobre como administrar o tempo.
O evento
O ano era 2002. Eu e outro brasileiro, Fabiano Silva, fomos escalados para representar o Brasil no International Kyokushin Challenge, em Paris.
Na verdade, eu não era a primeira opção dos organizadores.
Entrei substituindo outro grande atleta, Sérgio da Costa, que havia quebrado o braço no ano anterior e ainda não havia se recuperado totalmente.
O campeonato contava com 32 atletas, sendo dois representantes do Brasil, dois do Japão, e os demais, europeus.
Como é comum nos eventos de karate kyokushin, o torneio foi disputado em uma chave única, e todas as lutas foram realizadas no mesmo dia.
O início do evento
O evento começa e eu estou realmente animado.
Na época, estava com 20 anos de idade e havia acabado de conquistar o All American Open, em New York, logo após o atentado das torres gêmeas.
O nível do campeonato estava muito alto. Afinal, foram selecionados apenas 32 atletas no mundo inteiro para participar deste evento.
Mas, entre eles, o mais perigoso era Sergei Osipov.
Osipov vinha de um vice campeonato mundial na categoria meio-pesado no ano anterior. Tinha socos muito pesados, e derrubava muita gente com seus chutes altos.
Portanto, mentalmente, eu me preparava para lutar com ele na final, apesar de desejar que a final fosse com meu companheiro brasileiro.
As lutas
Para ser sincero, não me lembro com muitos detalhes das primeiras lutas. Porém, nas quartas de final, enfrentei um gigante polonês chamado Marek Kosowski.
O cara era feito de pedra. Muito forte.
Aliás, todos os poloneses que enfrentei eram muito fortes. Inclusive, neste evento, Fabiano Silva perdeu para um polonês que eu já havia enfrentado, Tomasz Najduc. Outro lutador duríssimo.
Voltando à luta com Marek, venci após uma prorrogação. Dois anos depois, acabei enfrentando-o novamente, dessa vez no All American de 2004.
Na semifinal, lutei com Adachi Shinji, um japonês com um soco muito forte. Tanto que, durante a luta, comecei a sentir gosto de sangue, mesmo sem ter cortado a boca.
Venci Adachi também por decisão dos juízes, após uma prorrogação.
A final
Enquanto eu avançava de um lado da chave, Osipov avançava do outro. Porém, enquanto eu sofria para vencer minhas lutas, ele nocauteava seus adversários.
Algo parecido aconteceu no mundial por categoria de peso, em 2005, quando eu enfrentei Lechi Kurbanov na final.
Enfim, chega a tão esperada final. Minha tática para a luta era o seguinte:
“Ele tem socos fortes e chutes altos muito perigosos, mas não tem o gás que eu tenho. Vou para cima com tudo para definir a luta logo nos primeiros três minutos”.
E foi o que eu fiz. Porém, apesar de mostrar uma certa vantagem na luta, não foi o suficiente para os juízes me definirem como vencedor.
E aí veio a prorrogação.
O problema é que eu havia usado toda a energia que eu tinha. Já ele, como lutador experiente que era, havia conseguido não gastar tanto a sua.
Na verdade, acredito que ele sabia que, se fosse colocar o mesmo volume de golpes que eu, também se cansaria logo.
Por isso, usou sua experiência para “enrolar” a luta, e me fazer gastar toda minha energia.
Essa estratégia deu certo.
Logo no início da prorrogação, eu estava tão cansado que já não conseguia manter minhas mãos na guarda.
Não deu outra. Levei um chute que me quebrou dois dentes. Sorte que um era o ciso, e outro era um que eu tinha a mais, depois do ciso ainda hahaha.
O chato foi ficar cuspindo pedaços do meu dente enquanto passeava na Champs Elysées após o evento, mas faz parte…
E o que isso tem a ver com como administrar o tempo?
Esses pouco mais de 3 minutos de luta são uma representação da vida.
Às vezes, vemos um desafio muito grande pela frente e, cheios de coragem, vamos para cima com tudo, sem analisarmos os riscos, e gastando toda nossa energia.
E o que acontece depois? A energia acaba, e não conseguimos concluir o que começamos.
Se você sabe como administrar seu tempo, sua energia não acabará no meio do caminho, e você poderá enfrentar qualquer que seja o desafio.
Ter um objetivo, agir com estratégia e não ir com muita sede ao pote dá a você muito mais chances de conseguir o que quer.
E lembre-se que, se manter ocupado não tem nada a ver com ser produtivo.
No início da luta, eu me mantive ocupado atacando, mas não fui produtivo, pois os golpes não causaram dano suficiente em Osipov para que eu vencesse a luta.
E, no final das contas, produtividade é a arte de saber como administrar o tempo de forma correta, certo? A arte de conseguir fazer mais, gastando menos recursos.
Enfim, foi isso que Sergei Osipov me ensinou sobre como administrar o tempo.
Consegui aplicar essa lição tanto em outras lutas como em atividades que nada tem a ver com o esporte.
E aí, gostou da história? Se tiver alguma sugestão para que eu escreva sobre alguma luta, e o que aprendi com ela, deixe aí nos comentários. Até a próxima!
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