No dia primeiro de maio de 2005 foi realizado o terceiro campeonato mundial por categoria de peso de kyokushin, em Tóquio.
A América do Sul contou com uma equipe de oito atletas, sendo sete brasileiros e um boliviano.
Neste evento, lutei pela segunda vez com o atleta checheno Lechi Kurbanov, sendo aquela talvez a luta mais esperada do ano pelos fãs de kyokushin.
Neste artigo, irei contar o que aprendi sobre ‘presença’, ou ‘estar presente’ com Lechi Kurbanov. Confira!
O mundial por categoria de peso
Assim como os outros campeonatos mundiais, o mundial por categoria de peso é realizado a cada quatro anos.
As categorias são divididas em:
- Leve: até 70 quilos;
- Médio: até 80 quilos;
- Meio-pesado: até 90 quilos; e
- Pesado: acima de 90 quilos.
Esta era a minha segunda participação no evento. Quatro anos antes, eu havia ficado em oitavo lugar, tendo vencido uma luta e perdido a segunda.
Desta vez, com mais experiência, sentia que estava preparado para conquistar o título de campeão mundial na categoria pesado. Mas, para isso, teria que passar pela forte equipe russa.
Minhas lutas no campeonato
Em minha primeira luta, enfrentei a jovem promessa japonesa, Yoshiaki Uchida, que viria a ser bicampeão japonês após este evento.
Venci a luta por decisão dos juízes e avancei para as quartas de final.
Em minha luta seguinte, encarei Mikhail Kozlov, da Rússia. A luta foi vencida por ippon.
Quatro anos depois, Kozlov se tornou o campeão mundial desta mesma categoria.
Na semifinal, lutei com Alexander Pichkunov, vencendo por decisão dos juízes.
Pichkunov foi o primeiro russo a subir no pódio em um campeonato mundial aberto, tendo sido derrotado por Francisco Filho, terminando a competição em terceiro lugar aos 19 anos.
Enquanto eu avançava de um lado da chave, Lechi Kurbanov passava com facilidade pelos seus adversários do outro lado.
O caminho de Lechi até a final
Lechi venceu todas as suas lutas até a final por ippon.
E o mais impressionante. Duas dessas vitórias vieram utilizando a mesma técnica, o chute giratório (ushiro mawashi geri).
Seu adversário na semifinal foi seu compatriota Andrei Stepin. Lechi o chutou com tanta força que Stepin teve que ser levado de maca para fora do tablado. Houve apreensão de todos, pois ele demorou para acordar depois do nocaute.
Minha luta com Lechi
A luta começou tensa, onde trocamos poucos mas poderosos golpes.
Lechi tentou encaixar sua técnica favorita algumas vezes, mas consegui não ser atingido e manter a luta equilibrada.
Eu sabia que, se quisesse vencer esta luta, não poderia ter pressa. Calculava que poderia vencê-la na primeira prorrogação.
Após um combate equilibrado, é declarado o empate e a luta vai para uma prorrogação.
A partir da primeira prorrogação, começo a me impor mais na luta, colocando um volume maior de golpes. Lechi busca acompanhar o ritmo, além de tentar aplicar seu chute giratório diversas vezes.
Mais um empate é declarado, significando mais uma prorrogação.
Neste terceiro período da luta, consigo mostrar vantagem suficiente na luta para ser declarado vencedor, conquistando o título mundial na categoria pesado.
Assista abaixo:
O que aprendi com Lechi nesta luta
Assim como em minhas lutas com Sergei Osipov, as lutas com Lechi Kurbanov exigiam que eu estivesse totalmente presente no momento.
Qualquer descuido poderia significar uma derrota por nocaute. Sua velocidade, técnica e precisão fazem dele um lutador muito perigoso.
Imagine só. Todos seus adversários sabem qual é sua técnica mais perigosa, e mesmo assim não conseguem se defender dela.
A única maneira de lutar com alguém tão perigoso assim é estar totalmente concentrado, totalmente presente.
Quando enfrentamos os melhores do mundo, tempos a oportunidade de crescer como lutadores e como pessoas. Colocamos a prova habilidades que também serão úteis para nossa vida fora das lutas.
Esse foi um daqueles momentos em que experimentei o que as pessoas têm tido dificuldade de vivenciar atualmente. Presença total.
Em um mundo com excesso de estímulos, as pessoas vêm tendo dificuldades até para ler um livro completo. A mente das pessoas está frequentemente no passado ou no futuro, o que as impede de vivenciar os momentos com plenitude.
Claro que, em todas as minhas lutas, minha mente estava focada no presente. Mas a luta com Lechi foi, provavelmente, a que me exigiu mais foco.
Após lutas como essa, nunca mais voltamos a ser quem éramos antes. Podemos deixar de ser lutadores, mas aquilo que aprendemos durante essas batalhas fica conosco para sempre.
E você, já lutou com alguém que exigiu um nível muito grande de presença? Deixe seu comentário! Até a próxima.
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