O mundo passa por um estado de pandemia que obriga a população da maioria dos países a se manter em um distanciamento social, o que tem causado grande impacto no estado emocional e físico.
Atualmente temos aproximadamente 55% da população mundial vivendo em áreas urbanas, o que faz com que estejamos acostumados a maior contato social, coisa que não era tão comum antes da migração das pessoas do campo para as cidades. Porém, nesta época, o distanciamento social não era visto como algo ruim, mas algo a que as pessoas estavam acostumadas.
Acontece que, com o avanço do Covid-19, os governos precisaram tomar medidas que provocaram o distanciamento entre as pessoas, na tentativa de controlar a pandemia. Essa mudança abrupta nos hábitos das pessoas tem causado prejuízos à saúde física e mental de muita gente.
Mas como tirar proveito dessa situação e avançar na sua prática marcial? É o que Miyamoto Musashi e Masutatsu Oyama fizeram, mas não por imposição de algo externo, e sim, voluntariamente.
O caminho solitário de Miyamoto Musashi até a maestria
Shinmen Musashi No Kami Fujiwara No Genshin, ou simplesmente Miyamoto Musashi, foi um espadachim japonês que viveu entre 1584 e 1645, e é considerado o maior samurai de todos os tempos.
É conhecido por ter desenvolvido a técnica chamada Niten Ichi Ryu, que utiliza duas espadas simultaneamente, e por ter escrito o livro Go Rin No Sho, o Livro dos Cinco Anéis, muito utilizado até hoje por estudantes de estratégia e pessoas ligadas a negócios.
Aos 13 anos, teve seu primeiro duelo, com o espadachim Arima Kihei, a quem venceu utilizando um bastão de madeira.
Musashi inicia sua jornada de aperfeiçoamento marcial aos 15 anos, quando decide viajar pelo Japão para desafiar os guerreiros mais famosos de sua época, com o objetivo de ganhar reputação e adquirir maestria no caminho da espada.
Alista-se no exército de Toyotomi Hideyoshi aos 17 anos, e participa de conflitos, entre eles, a batalha de Sekigahara.
Entre os vários confrontos importantes de sua carreira estão a luta contra a família Yoshioka e o lendário combate contra Sasaki Kojiro, na ilha de Ganryujima.
Durante toda a sua jornada de aperfeiçoamento pessoal, permaneceu sozinho. Não se casou, e dedicou sua vida ao aprimoramento da sua técnica marcial. Por meio de muito treino, estudo e batalhas travadas com vários adversários, consegui desenvolver seu estilo, que consistia em utilizar simultaneamente a espada curta e a espada longa em um combate.
Dedicou-se também a outras artes como pintura, escultura e caligrafia, além de documentar a sua compreensão sobre o caminho da estratégia por meio do livro Go Rin No Sho.
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O isolamento de Masutatsu Oyama nas montanhas
Masutatsu Oyama nasceu na Coréia, batizado com o nome de Choi Yeong-eui.
Quando ainda era bem jovem, é mandado para a Manchúria para morar com sua irmã em uma fazenda, onde tem seu primeiro contato com as artes marciais, aos 9 anos de idade, através de um dos trabalhadores da fazenda, que o ensinou técnicas de artes marciais chinesas.
Aos 15 anos, já no Japão, decide se alistar na escola de aviação do exército imperial japonês, e adota o nome Masutatsu Oyama.
Após o final da segunda guerra mundial, passa a viver em Tóquio, onde passa a praticar karate Shotokan, instruído por Gigo Funakoshi e Gichin Funakoshi. Algum tempo depois, começa a ter aulas de Goju-ryu com Nei-Chu So.
Ao ler o Livro dos Cinco Anéis, de Miyamoto Musashi, Oyama sente que deve passar por uma experiência de isolamento e treinamento intensivo, com o intuito de também atingir a maestria em sua prática marcial.
E foi o que aconteceu.
Ao passar um total de três anos treinando nas montanhas, sendo 14 meses na montanha Minobu, e o restante na montanha Kiyozumi, ambas em Chiba, tem sua vida completamente transformada.
O regime diário de 12 horas de prática, que incluía treinamento físico, estudo de textos que envolviam filosofia, artes marciais e zen-budismo, e a prática da meditação zen, fizeram com que ele alcançasse um patamar muito elevado como artista marcial.
Foi nessa jornada de três anos, neste período isolado da civilização, que Oyama começou a desenvolver seu estilo próprio de karate, ao qual posteriormente chamaria de Kyokushinkai.
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O isolamento social e a prática de artes marciais
Hoje em dia, a prática de artes marciais é uma forma que as pessoas encontram de fazer parte de um grupo que compartilha de gostos e forma de pensar similares. As academias são quase como clubes, onde não se vai apenas para praticar lutas, mas para encontrar e fazer amigos. Ou seja, possuem um papel social muito importante.
O contexto dos dois personagens citados anteriormente era muito diferente, principalmente o de Miyamoto Musashi. A solidão fazia parte do estilo de vida que adotou, não foi imposta de maneira abrupta.
Já Masutatsu Oyama, apesar de ter se isolado nas montanhas por vontade própria, sofreu com o isolamento, tendo que recorrer a artifícios que o obrigassem a não desistir até completar o período proposto, como por exemplo raspar as sobrancelhas para que não quisesse ser visto em público daquela forma, e assim, conseguindo resistir à tentação de retornar à civilização.
Para nós, meros mortais, habituados a encontrar amigos, conversar e ter mais contato com outras pessoas, o isolamento traz dificuldades que precisam ser superadas.
Assim como fez Oyama, precisamos encontrar algo que nos ajude a manter nosso foco no nosso desenvolvimento como artistas marciais, e, além de tudo, pensar neste período como uma oportunidade de atingirmos um outro nível em nossa prática.
É hora de repensar nossas práticas, refletir sobre se o que fazemos ainda faz sentido, e eliminar o que já não faz, em como aplicar aquilo que praticamos em nosso dia a dia, e em que estratégias adotar para interagirmos e trocarmos conhecimentos com outros praticantes.
Precisamos reservar, nem que sejam alguns minutos do dia, para esta reflexão sobre nossa prática, e não simplesmente fazermos tudo de forma automática.
Sem esses momentos de introspecção de seus fundadores, unida à prática marcial, os estilos Niten Ichi Ryu e Kyokushinkai provavelmente nunca teriam sido desenvolvidos. A maestria e a excelência estão ao alcance daqueles que ousam e se propõem a pagar seu preço.
E você, como tem aproveitado este período de forma que contribua para sua prática marcial? Deixe seu comentário!
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