A faixa preta, tão almejada por quem treina artes marciais, é objeto de admiração e símbolo do esforço e dedicação de quem a detém.
Muitos são os que iniciam a prática de artes marciais, mas uma parcela muito pequena conquista a tão almejada faixa preta.
Mas será que, ao conseguir se graduar, significa que o praticante já sabe o suficiente, ou sua jornada nas artes marciais está apenas começando?
Vou deixar aqui minha reflexão sobre o tema. Espero que goste!
O caminho para a faixa preta
Sangue, suor e lágrimas. É a isso que se resumem os anos em que se persegue o objetivo de alcançar a faixa preta.
À medida que você avança de faixa, sua responsabilidade aumenta. Você passa a ser olhado pelos seus companheiros de treino menos graduados de forma diferente.
Eles se espelham em você, e você sente uma pressão (positiva) de fazer jus às novas faixas que conquista.
Esse caminho ocorre de forma natural. Cada praticante tem o seu ritmo, e, na minha visão, é desnecessário ter pressa, ou ficar se comparando aos outros para ver quem chega primeiro à próxima faixa.
Exames de graduação, quando existentes, devem ser prestados quando não se há mais o que aprender na faixa em que se está.
Não existe “treinar para o exame de faixa”. Você não se torna faixa preta por causa do exame. Isso acontece antes, e este evento apenas formaliza o que já aconteceu.
Portanto, este não deve ser um caminho forçado. Não se deve pular etapas. Pois, se você não construiu seu conhecimento e habilidades marciais de forma sólida, não conseguirá mostrar aos examinadores que merece a faixa preta. E pior, não conseguirá apresentar o nível de habilidade esperado de um faixa preta nem em competições, nem nas próprias aulas.
A responsabilidade que a faixa preta traz
Ao conquistar a faixa preta, você passa a ser uma referência na modalidade que pratica. Você será sempre alguém em quem as pessoas irão se basear para saber se sua arte marcial é efetiva, goste você ou não.
No meio das artes marciais, assim como em todas as atividades humanas, existe muito ego envolvido.
Pessoas gostam de fazer comparações, e se virem algo que os impressione, passarão a admirar este algo, até que encontrem uma opção que lhes agrade mais.
Manter um nível técnico condizente com a faixa que você sustenta na cintura, portanto, torna-se uma responsabilidade, que nem todos estão preparados para assumir.
A conduta do faixa preta
O faixa preta, antes de tudo, é um ser humano. Sua personalidade não muda ao alcançar tal nível. Ele não atinge a “iluminação”, nem se torna uma pessoa superior.
Aliás, muitas vezes o que ocorre é o contrário.
Por falta de maturidade, ego exacerbado, e outros defeitos morais, o faixa preta acaba tomando atitudes que não são tão legais. Isso tudo potencializado pela sensação de “poder” que a faixa traz.
Eu mesmo já caí nesta armadilha, e não conheço nenhum outro faixa preta que não tenha caído também.
Alguns nunca acordam, e passa a vida realmente acreditando que são especiais.
O ideal é que se aprenda a observar as próprias atitudes. Olhar para dentro de si mesmo, assim como faz quando se quer melhorar uma técnica.
Assim, sua personalidade vai sendo polida, e você vai melhorando como pessoa ao mesmo tempo que se torna um melhor lutador.
É importante saber também que a sua faixa tem relevância apenas no ambiente de treino ou de luta. Fora dele, você é apenas um cidadão comum.
Você pode estar em um estágio mais avançado na sua arte marcial, mas você pode ter pessoas menos graduadas que você que estejam mais adiantados que você em outras áreas da vida.
Portanto, o faixa preta deve ser uma pessoa segura, para que não use de seu status dentro do dojo para se impor fora dele.
Mas afinal, a faixa preta é o início ou o final da jornada?
Só pelo que foi exposto acima, já conseguimos ter uma pista para a resposta a esta pergunta. Se o faixa preta precisa estar em um nível técnico em que possa representar bem sua arte, isso significa que precisa treinar mais do que antes.
Se precisa observar suas atitudes para que não caia nas armadilhas do ego, e possa se aprimorar como pessoa, este é outro sinal de que a jornada apenas começou.
A água parada se torna insalubre, assim como a mente do praticante que fica parada no tempo, conformada com a situação e certo conforto que a faixa lhe proporciona.
Acontece que, o que não evolui, automaticamente regride. Isso porque o tempo passa e o mundo evolui, sendo impossível se manter no mesmo estado, seja para melhor ou para pior.
Por isso, a conquista da faixa preta é um marco para o início de uma jornada de aprimoramento pessoal e técnico, e não o fim dela.
E que caminho seguir após se tornar um faixa preta?
A faixa preta, mais do que um pedaço de pano que serve para manter seu uniforme fechado, é um lembrete do quanto você é capaz se acreditar em si mesmo.
Quando você está no treino, ela é usada como parte do uniforme. Porém, ao sair na rua, você continua sendo um faixa preta, e precisa usar o que aprendeu para lidar com diversas situações cotidianas.
A confiança e determinação desenvolvidas por você neste caminho podem ser aplicadas em qualquer coisa que você resolva fazer.
Existem muitas possibilidades que podem ser exploradas por você ao pegar a faixa preta.
Você pode se dedicar a ensinar o que aprendeu, e, com isso, fixando e polindo sua técnica, pois quem ensina acaba aprendendo muito.
Pode abrir uma ou mais academias para que você e seus alunos possam multiplicar este conhecimento.
Uma possibilidade também é explorar outras artes marciais, seja como lutador profissional, ou como um pesquisador e amante das lutas. Ao escolher este caminho, você conseguirá adquirir mais consciência de suas limitações, e desenvolver sua própria técnica. É o caminho escolhido por Bruce Lee.
Ainda nesta opção, sua busca pode ser a investigação sobre a melhor forma de se defender uma situação real, a aplicação do que você sabe em esportes de combate, ou até mesmo como ajudar as pessoas a terem uma vida mais saudável com exercícios baseados nas artes marciais.
Mesmo que você não dedique tempo integral ao estudo das artes marciais, seus conceitos podem ser aplicados no seu trabalho. Um empreendedor, por exemplo, pode se beneficiar muito do espírito de “nunca desista” desenvolvido no caminho até a faixa preta.
Essas são apenas algumas das possibilidades que o artista marcial encontra. O importante é que esteja sempre questionando o quanto realmente sabe, para que possa continuar evoluindo. E principalmente, não se esqueça do caminho percorrido até se tornar um faixa preta.
Essas são minhas considerações sobre a faixa preta. O que você achou? Se gostou, compartilhe para que mais pessoas possam ler também.
Abração!
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