E lá se foram dez anos…
O título mundial, objetivo alcançado por apenas dez pessoas na história do Karatê Kyokushin (sendo uma delas por duas vezes), é o sonho de grande parte dos praticantes da modalidade no mundo inteiro. Um desafio que reúne em três dias 192 atletas (no meu primeiro mundial foram 240), que lutam em uma chave única para que dali saia o campeão.
A conquista deste título vem com a soma de diversos fatores. Desde pequeno, assistia aos vídeos dos mundiais anteriores tantas vezes que as fitas cassete ficavam até gastas… rs… mas desde cedo aprendi a elaborar estratégia de luta e me motivar com as conquistas de meus antecessores, que representaram o país antes de mim.
Comecei a treinar Kyokushin aos 8 anos de idade, parando com 10 para 11 anos, e retornando aos 16, já com a intenção de me tornar um competidor e campeão mundial. Ainda como juvenil, tive a sorte de treinar com grandes estrelas da modalidade, o que fez com que eu pudesse comparar meu nível atual com o de um atleta de nível internacional, e o que seria necessário fazer para atingir esse nível.
Minha primeira competição fora do país foi no Mundial por Categoria de Peso, onde aos 19 anos, representei o Brasil na categoria Super Pesado (acima de 90 kg). O torneio foi realizado em Osaka. Venci minha primeira luta contra um polonês, e perdi a segunda, contra Atsushi Kadoi, do Japão.
A pouca idade e falta de experiência não foi impedimento para que eu conseguisse meu melhor desempenho na competição. Consegui aplicar tudo o que treinei e identificar o que faltava para que eu saísse vencedor. Neste mesmo ano, 11 dias após o ataque às torres gêmeas, fui a Nova York e conquistei meu primeiro campeonato All American, sendo o atleta mais jovem da história a conquistá-lo. Considero este o título mais importante da minha carreira, pois eu me encontrava desmotivado, e esta conquista fez com que eu encontrasse novamente motivação, e desse prosseguimento à minha carreira de atleta.
Em 2003, lutei no meu primeiro mundial absoluto, onde não há divisões por categorias de peso. A equipe brasileira contava com 16 atletas. Minha motivação para este campeonato era me tornar o mais jovem campeão mundial absoluto da modalidade até então (estava com 21 anos), mas as coisas não saíram como planejado…
Após seis lutas, finalmente estava na semifinal do mundial. Meu adversário era o japonês Hitoshi Kiyama. Após uma luta muito próxima, o atleta da casa foi declarado o vencedor por decisão dos jurados. Do outro lado da chave, outro brasileiro (Glaube Feitosa) também perdia por decisão dos jurados. Nosso sonho em fazer a final da competição não se realizou, nos restando fazer a disputa pelo terceiro lugar. Foi a luta mais estranha da minha vida. O ginásio estava em silêncio, e havia um sentimento de vazio, por não ser a situação em que queríamos lutar.
Agora a realização do sonho do título mundial teria que esperar por mais quatro anos, já que a competição é quadrienal. De 2003 à 2007 continuei competindo de duas a três vezes por ano, participei de um filme no Japão (Backdrop del Mio Papá), onde eu era o vilão da história hahaha, fui campeão mundial super pesado, e penta campeão All American. Me sentia mais preparado que nunca para o mundial de 2007.
Os treinos eram extremamente exaustivos. Treinava o dia todo, com dor, lesões, e pouco tempo para me encontrar com a família e amigos. Houve até um momento em que senti que meu sonho estava ameaçado. No meio do ano de 2005, sofri uma lesão séria enquanto treinava. Desloquei a patela do meu joelho esquerdo (a patela foi até a lateral da minha perna), o que me deixou muito preocupado. Mas não desisti. Fiz o tratamento de fisioterapia por vários meses, e consegui voltar a competir, até chegar o momento de eu ter uma nova chance de conquistar o mundial absoluto.
A competição contou com 192 atletas e se deu em três dias. Enfrentei lutadores de diversas nacionalidades, chegando à final com Jan Soukup da República Tcheca. Venci a luta por ippon (KO), me tornando o único atleta da história a vencer a final do mundial desta forma. A conquista do título, que eu via como grande objetivo da minha vida, foi apenas o começo de uma série de oportunidades e mudanças, que também exigiam esforço mas que também traziam realização.
De dez anos para cá, morei no Japão, lutei na maior organização de luta em pé da história, o K-1, me tornando campeão japonês da organização, me casei, minha filha nasceu, me formei, concluí duas pós-graduações, lutei MMA no Bellator, me tornei Coach Esportivo, fui contratado como head-coach do Corinthians MMA, entre muitas outras coisas boas.
Acredito que nada disso seria possível sem o apoio da minha família, de uma ótima equipe de mestres, treinadores e parceiros de treino, dos verdadeiros amigos, dos fãs e das pessoas que desejavam meu sucesso. Continuarei me esforçando ao máximo em tudo o que eu fizer e que venham os próximos 10 anos.
Um grande abraço a todos
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