As artes marciais foram criadas originalmente para o combate, e seu objetivo era oferecer meios para que o praticante conseguisse pudesse garantir a sua sobrevivência.
Elas foram desenvolvidas em ambientes hostis, de guerras e conflitos, onde era necessário que o homem conhecesse formas de combater seus inimigos para proteger a si mesmo, sua família, suas terras e seu país.
Hoje os motivos que levam uma pessoa a praticar artes marciais geralmente são bem mais simples. Vão do gosto por atividades mais vigorosas à possibilidade de praticar uma modalidade da moda. Da busca por uma melhora estética ao desejo pelo desenvolvimento integral de suas capacidades como ser humano.
Mas como pessoas com motivos tão diferentes acabam escolhendo a mesma prática? E mais ainda, como acabam alcançando resultados similares, como a ampliação do autoconhecimento? É isso que vamos ver neste artigo. Confira!
A velocidade do mundo moderno e a motivação
Vivemos em um mundo onde a tecnologia atual nos permite obter respostas e resultados muito rápidos. Quando queremos saber sobre algo novo, basta acessarmos os sites de busca, e a resposta estará lá, prontinha, mesmo que não seja a mais completa.
O mesmo acontece quando queremos nos comunicar com alguém que se encontra distante. Com um dispositivo móvel, você tem a opção de conversar com ela por vídeo, apenas por áudio de forma simultânea, ou mesmo por mensagens de texto.
Em consequência disso, nos acostumamos a querer que a velocidade seja parte de todas as áreas de nossas vidas. Não temos mais paciência nem visão de longo prazo.
Alunos não querem repetir os mesmos movimentos diariamente, nem ter que esperar tanto tempo para se graduarem. E isso é prejudicial, pois a progressão nas artes marciais é um processo, não há como pular etapas.
O papel do professor de Artes Marciais
As questões levantadas acima trazem uma grande responsabilidade ao professor de artes marciais. Este deve encontrar formas de extrair resultados de seus alunos sem que sua arte marcial se descaracterize.
Tornar a aula interessante, ou mais ainda, fazer com que o aluno veja sentido naquilo que está fazendo na aula é a missão do professor atual.
O professor de artes marciais está formando pessoas com a capacidade de defenderem a si próprios e a seu próximo. Mas além da parte marcial, o aluno precisa aprender a ver a sua prática como uma arte.
O papel da arte na vida do ser humano
O ser humano precisa da arte, sendo esta uma forma importante de expressão e de exteriorização dos seus sentimentos.
Os diferentes tipos de arte estimulam os sentidos de formas distintas. Na pintura, por exemplo, há um estímulo mais visual, e o instrumento utilizado é o pincel e a tela. Já na música, o estímulo é predominantemente auditivo, e os mais diversos instrumentos musicais podem ser utilizados para provocá-los.
Nas artes marciais, o instrumento utilizado é o próprio corpo do praticante, e os movimentos devem ser realizados de forma harmônica. Sua prática hoje em dia permite uma preocupação com a estética dos movimentos, sem deixar de lado sua eficiência.
Com isso, o aluno aprende a se expressar através do movimento do seu próprio corpo, e quanto mais se desenvolve como lutador, mais o seu repertório de técnicas aumenta, e maior é a sua capacidade de se expressar.
Técnicas padronizadas x Expressão
O professor de artes márcias deve tomar muito cuidado ao transmitir seu conhecimento técnico ao aluno. Deve criar um ambiente em que o aluno consiga adaptar a técnica a si, ou seja, incorporá-la e executá-la da forma que faz mais sentido a ele.
Ao exigir que todos os alunos apliquem uma técnica de forma padronizada, é bem possível que não se obtenha o máximo de resultados que aqueles alunos poderiam oferecer, pois seus corpos estão impedidos de se expressar como o são.
Exigir que alguém com pernas mais curtas realize o mesmo movimento que alguém que tenha pernas compridas não faz sentido nenhum. Claro que deve existir um padrão de movimento, e que este deve ser executado com frequência, mas cada aluno deve aprender a executar este movimento de forma que consiga o melhor resultado possível.
O combate como forma de expressão
O objetivo principal de uma pessoa que entra em um combate com outra é subjugar seu adversário, ou seja, impor sua vontade a ele. Nisso, as artes marciais acabam sendo uma representação da vida fora da área de treinos, onde a competitividade é presente em todos os lugares, desde o ambiente de trabalho ao metrô lotado.
A diferença entre a competitividade na prática de artes marciais e a batalha da vida diária está justamente na sua possibilidade de se expressar.
Enquanto em uma luta você é estimulado a se expressar, e quanto mais conseguir mostrar quem você realmente é e suas capacidades, mais chances terá de vencer, na vida cotidiana ocorre o contrário.
Você é estimulado a reprimir seus sentimentos e usar uma máscara pra que seja considerado alguém com um comportamento aceitável, mesmo quando precise encarar situações que considere injustas.
Como corpo e mente são trabalham em unidade, esse comportamento reflete em nosso corpo, ocasionando a dificuldade de tomar decisões certas com velocidade, ou seja, sem que haja primeiro uma reflexão.
O combatente está acostumado a tomar decisões com velocidade, pois um combate se desenrola de forma veloz e dinâmica. Se, durante um combate, você for parar pra pensar qual é o melhor soco para derrubar seu adversário, será atingido com certeza.
Essa habilidade adquirida na prática marcial você consegue incorporar em diversas áreas de sua vida.
Aprendendo a combater adversários internos
Em um combate, o praticante não irá encarar apenas seu oponente. Irá encarar suas próprias emoções como medo, vergonha, frustração, raiva etc.
Só que, esse combate se desenrola de forma diferente. O objetivo não será subjugá-los como com o adversário, e sim, entendê-los e aceitá-los para que possa controlá-los.
Enquanto você não consegue compreender o que se passa com você, seus sentimentos irão dominá-lo, e o que se deseja é justamente o contrário.
Combate sem vencedores
Essa luta interna pode ser exercitada durante as aulas através de aulas que não estimulem apenas a competição por si só, mas a evolução do praticante integralmente.
Durante um treino de luta, por exemplo, não é necessário que seja apontado um vencedor, pois isso pode tirar o foco da evolução como lutador, sendo este direcionado apenas para superar eu rival. Isso impede que o praticante arrisque mais golpes, ou seja, faz com que se expresse menos.
Um foco menor na competição faz com que você se concentre mais na sua própria evolução, aprenda a identificar seus pontos fortes e fracos, e saiba o que fazer para melhorar, ou seja, gera autoconhecimento.
A luta como estratégia para o desenvolvimento pessoal
Agora que o lutador já sabe como fazer para se conhecer melhor, é necessário que se mantenha em constante evolução.
Para isso, deve melhorar a forma de aplicar suas técnicas e de como manter suas emoções sob controle.
Estratégia nada mais é do que aplicar recursos da melhor forma possível para se atingir os melhores resultados.
Ao aplicar seus recursos físicos, técnicos, emocionais e psicológicos, os resultados gerarão aprendizados que, por sua vez, produzirão evolução constante.
Olhando para si, sem se acomodar, sem achar que já aprendeu o suficiente, o praticante de artes marciais consegue aumentar constantemente o conhecimento que tem sobre si mesmo.
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