
Em um texto anterior, relatei como foi minha primeira participação no campeonato pan-americano de Karatê Kyokushin, conhecido como All American Open.
Alterando um pouco a ordem cronológica, vou pular da primeira para a terceira participação, onde defendi pela terceira vez o título de campeão do torneio.
O ano era 2003, ano de mundial. No Karatê Kyokushin, o campeonato mundial principal, conhecido como aberto, onde não há divisões de peso, é realizado a cada quatro anos.
Eu estava ansioso para participar pela primeira vez do campeonato mundial aberto. Já havia visto muitos dos meus antecessores representarem de forma grandiosa o Brasil.
Na edição anterior, o campeão havia sido o “shihan” Francisco Filho, que, com o feito, se tornou o primeiro não japonês a conquistar o título. E aproveitando essa onda de euforia trazida pela conquista, a equipe brasileira estava mais motivada do que nunca.
O campeonato que antecedia o mundial era o All American. Foi realizado em julho de 2003 na cidade de Nova York, e como de costume, trazia competidores do mundo inteiro.
Em uma ponta da chave estava o russo Sergei Osipov, de quem eu havia perdido por ippon no ano anterior. Eu estava na outra ponta, com o número 63 nas costas.
Este ano, também tivemos duas representantes do Brasil no feminino, e uma superluta entre Glaube Feitosa e Atsushi Kadoi.
O torneio começa e eu faço minha primeira luta com um atleta da Nova Zelândia cujo nome não me recordo. Era um atleta não muito alto, mas bem pesado.
Era o tipo de lutador que não tem muita mobilidade e agilidade, mas que é preciso tomar cuidado na hora de golpeá-lo, pois incrivelmente você acaba sempre acertando um cotovelo ou um joelho.
Foi o que aconteceu comigo. Dei um soco com a mão direita que pegou bem no cotovelo dele. Na hora, senti uma dor muito forte, que aumentou após a luta.
Durante os torneios, eu entrava em um estado mental que fazia com que eu evitasse os pensamentos negativos, e encarasse as adversidades de forma que não me atrapalhassem. Por isso, coloquei um esparadrapo unindo os dois dedos. Testei para ver se dava para socar desta forma, e deu certo.
Continuei o torneio e fui passando as lutas uma a uma. Do outro lado da chave, Osipov fazia o mesmo.
Na semifinal, lutei contra o polonês Tomasz Najduck, a quem eu havia vencido duas vezes anteriormente. O problema é que, a cada luta ele estava mais forte.
Não deu outra. Ele partiu pra cima com tudo, e estava decidido a vencer desta vez. Os socos que ele dava no meu peito estavam bem mais fortes do que das outras vezes.
Empatamos e fomos para a extensão, que venci por decisão dos jurados. Do outro lado, Osipov enfrentou um compatriota, a quem venceu com facilidade.
Chega a final!
Eu estava bem animado com a possibilidade de fazer a revanche com aquele adversário. Na verdade, eu admirava muito ele, e seu estilo de luta. Geralmente vencia as lutas por ippon, com mawashi geri no rosto, o que havia acontecido comigo em Paris. Mas eu tinha a responsabilidade de manter meu título, e não deixaria que nada me impedisse.
De todas as lutas que fiz na carreira, incluindo aí o kickboxing e o MMA, essa foi a mais difícil.
Lutamos o tempo regulamentar, com duas extensões, empatamos no peso, empatamos no tameshiwari, e finalmente fizemos a última extensão, onde não pode haver empate.
Com muito esforço, consegui vencer a luta, conquistando assim o tricampeonato.
Estava muito feliz por ter conseguido manter o título, vencer minha revanche, e mais ainda por ter superado a dor no dedo, que descobri estar quebrado quando eu voltei ao Brasil.
Agora, o foco era me recuperar o mais rápido possível para me preparar para o meu primeiro mundial aberto.
Abaixo, deixo o link com o vídeo da final, disponibilizado no Facebook.
Um abraço e até a próxima.
Deixe um comentário